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Colunista

Gestão dos sentidos: quais cores você ouve?

Recentemente, escrevi sobre os estudos do pensador indiano-americano Parag Khana. Para ele, já vivemos uma Era Híbrida, em que cresceremos e nos aperfeiçoamos em conexão direta com os dispositivos tecnológicos.

Isso quer dizer que integrados às nossas invenções seremos capazes de aprimorar nossos sentidos e viver de forma mais humana, exercitando nossos talentos criativos.

Essas análises são fundamentais à compreensão dos novos desafios da gestão. Se gerir é, cada vez mais, gerir a mudança, seremos compelidos a utilizar todo esse instrumental para definir, dia após dia, o futuro de nossas organizações.

Cabe apresentar aqui um incrível exemplo de como a revolução tecnológica está mudando o mundo e nossa maneira de percebê-lo.

O artista Neil Harbisson, de 30 anos, é um britânico que passou a infância na Espanha, desenvolvendo-se num ambiente multicultural.

Nascera, no entanto, com uma grave limitação. A acromatopsia o impedia de ver as cores. Seu universo era em preto, branco e escalas de cinza.

Para ele, o céu parecia sempre carrancudo e a televisão, por mais moderna que fosse, não diferia muito daquelas comercializadas no início dos anos 1950.

Em 2003, no entanto, em parceria com o cientista da computação Adam Montandon, iniciou um projeto para desenvolver um olho eletrônico. Com a colaboração do esloveno Peter Keese e do catalão Matias Lizana, o sistema foi finalizado.

Desde 2004, Harbisson carrega um sensor que detecta a frequência de cor à sua frente e remete um sinal específico a um chip instalado na parte posterior da cabeça.

Desde essa época, o artista ouve as cores o tempo todo. A princípio, ele teve que identificar cada sequência de notas e memorizar os nomes de cada cor.

Depois de alguns anos, no entanto, a informação se converteu em percepção. Ele deixou de pensar metodicamente no catálogo de sons e nomes.

Um dia, magicamente, começou a desfrutar de sonhos coloridos. E isso não tinha relação direta com a “prótese” sensitiva. Seu cérebro aprendera a reproduzir as referências de cores, estendendo seus sentidos.

- Descobri que a aparelhagem não era mais uma aparelhagem. Tinha se tornado parte do meu corpo, uma extensão de meus sentidos.

De quebra, Harbisson tem uma habilidade única no mundo. Ele vê cores numa composição de Mozart ou num hit de Lady Gaga. Cada melodia é um painel vibrante de matizes que se projetam em seu cérebro. Ele pode, portanto, pintar música.

Sinestésico, o artista é capaz de distinguir 360 diferentes tonalidades de cor e assegura que o príncipe Charles e a atriz Nicole Kidman têm o mesmo “som” de olhos.

Há dois anos, ele criou a Cyborg Foundation, destinada a ajudar as pessoas que queiram estender seus sentidos por meio da tecnologia.

Para Harbisson, a vida será mais excitante quando as empresas pararem de criar aplicativos para celular e passarem a investir no desenvolvimento de sistemas sensoriais orgânico-corporais.

Loucura? Não, mesmo. Na verdade, vivemos há tempos esse processo de fusão. Um tacape estendeu o braço do homem das cavernas. Óculos restabeleceram a visão de sábios antes condenados às trevas. A TV virou um olhar eletrônico global compartilhado.

Nestes novos tempos, esses sistemas híbridos tendem a se tornar mais complexos e mais formidáveis. A Internet já funciona perfeitamente como um cérebro global, capaz de influir decisivamente na construção do pensamento.

Gerir, a partir de agora, vai exigir cada vez mais talentos multifuncionais híbridos. Seremos impelidos a pensar como fornecedores, colaboradores e clientes. Seremos obrigados a sentir a respiração do planeta, como se cada um de nós fosse a Terra inteira.

Quer tomar parte nessa festa? Aprenda a ouvir e gerir em cores.

Afinal, a teoria, na prática, funciona!


Contatos através do e-mail: julio@carlosjulio.com.br
Site: www.carlosjulio.com.br

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