Qual a empresa?
Categorias mais buscadas: ver todas as categorias

Colunista

A Economia da Irresponsabilidade: Os países europeus estão ameaçados?

Basta ler com atenção os jornais estrangeiros e perceber a apreensão dos analistas. Mal matada, a crise de 2008-2009 converteu-se em zumbi e já aterroriza o mundo novamente.

Na Europa, países como Grécia, Portugal e Espanha estão seriamente ameaçados. Para seguir tocando a vida, recorrem a empréstimos, concedidos não por quem é solidário, mas por quem treme de medo da contaminação. Ao mesmo tempo, elevam impostos e não são capazes de gerar empregos e riquezas.

Trata-se de um paradigma vicioso de filme de terror. Se esses países diminuíram a capacidade de produzir receitas, como vão pagar suas dívidas?

Em meu livro “A Economia do Cedro”, tratei com minúcia da chamada “economia da irresponsabilidade”. Pois o diagnóstico da enfermidade permanece válido.

Mesmo após o desastre dos subprimes e do desmoronamento de instituições como oLehman Brothers, o sistema não tem sido eficiente e responsável para controlar a reprodução fantasmagórica de ativos financeiros sem lastro.

Como mortos-vivos, esses espectros de papéis pobres seguem vagando de um país para outro, alimentando-se da energia dos que empreendem e trabalham de verdade.

Por doutrina, considero que ética e responsabilidade podem estabelecer algum tipo de autorregulação nos mercados, especialmente se o ambiente de trocas tiver como árbitro um governo transparente e zeloso pela coisa pública.

O que se vê, no entanto, é que os principais agentes dos mercados estão hoje acorrentados, incapazes de reagir, dominados por uma força externa, definhando subnutridos nos porões da economia. O mercado ideal envolve uma grande coletividade de negociantes que buscam seus interesses sem lesar os outros players. No caso atual, esses elementos foram substituídos por especialistas na pirataria de papéis.

Vale relembrar como tudo isso começou. Foi por meio da composição da criatura do Frankenstein moldado pelos subprimes norte-americanos, que teve correspondentes na Europa e no Japão. Como acreditar que esse monstro poderia gerar paz, harmonia e prosperidade? A partir dessa aventura, muitos negócios perderam suas almas. Seus valores se tornaram meramente nominais. Afinal, para cada centavo de lucro gerado é preciso que exista um equivalente em trabalho, em mercadoria, em qualquer bem tangível.

Em viagem aos EUA, anos atrás, recordo de casos escabrosos. Algumas hipotecas tinham hipotecas em cascata, com valores que excediam tremendamente o valor real.

Os aportes de capital fornecidos pelos governos centrais deram sobrevida aos afetados pela peste. No entanto, não se eliminou a fonte de contágio.

No caso da Europa meridional, o remédio tem sido uma dieta rigorosa, com arrocho fiscal e corte nos salários. Ok, tudo bem, isso resolve o problema do livro contábil. Mas só a curto prazo. Se um país perde a capacidade de produzir, também perde a capacidade de gerar receitas. Segue-se outra amputação e as finanças parecem se equilibrar. Logo, no entanto, se inicia uma nova curva da espiral descendente.

É disso que reclamam, com razão, os portugueses, espanhóis e gregos. Veja bem, leitor: a crise surgiu porque não havia equivalentes tangíveis para os papéis fantasmas. Paradoxalmente, sugere-se uma terapia que exige redução da atividade produtiva.

No mundo globalizado, é certo que o efeito dominó pode derrubar outras instituições em países como Inglaterra, França, Alemanha e, logicamente, nos Estados Unidos. Ali, a briga se concentra no Congresso. A luta é para elevar aos 44 minutos do segundo tempo o teto da dívida pública, em associação com cortes radicais no orçamento. Luz amarela acesa, até para nós. Não se crê em calote (três batidas na madeira), mas todo cuidado é pouco, como sinalizou a Moody’s. O Brasil tinha em maio US$ 211,4 bilhões aplicados em títulos do governo americano, colocando-se como quinto maior credor externos dos EUA.

No caso dos Estados Unidos, mais do que os problemas pontuais da relação tensa entre Democratas e Republicanos, a preocupação se concentra nos altos níveis de desemprego, na falta de fôlego do mercado interno e na perda de posições em disputas concorrenciais externas. Caso o zumbi se faça dois, depois três e se multiplique, é bem provável que um deles venha pisar em nosso jardim.

Nesse caso, é importante trancar bem a casa, mas sem impedir que o ar se renove. Proteção nunca pode gerar sufocamento. É preciso manter as defesas contra a inflação. No entanto, não se pode copiar o modelo das espirais descendentes.

Uma crise gerada pela falta de lastro somente pode ser combatida por uma política empreendedora, voltada para a produção, para a geração de empregos e para a constituição de ativos saudáveis.

Para isso, é importante que se mantenha o processo de ampliação do mercado interno, menos calcado no crédito extensivo e mais no fortalecimento do cidadão produtor-consumidor.

Políticas compensatórias são necessárias em momentos específicos, especialmente para aqueles que precisam de um primeiro empurrão para sair da miséria. No entanto, nada disso vale se não houver uma gestão de investimentos consistentes em educação, capacitação e promoção por meio do trabalho. O dinheiro de quem empreende e produz tem sempre lastro. É do fortalecimento desse exército de bons vivos que o Brasil precisa para enfrentar os zumbis.

Afinal, a teoria, na prática, funciona!

Contatos através do e-mail: julio@carlosjulio.com.br
Site: www.carlosjulio.com.br

Voltar

Coloque sua empresa na internet! Hot Sites EmpresasVALE
ApoioIncubadora Tecnológica UnivapSão José dos CamposSebrae SPCIESPUnivapParceirosACI SJCACI SP


2000 - 2014 | EmpresasVALE® - Todos os direitos reservados
Desenvolvido por: Sites&Cia