Durante duas semanas, fomos bombardeados por milhares de informações sobre os Jogos Olímpicos de Londres. Porém, quase todo o conteúdo de comunicação tratava de atletas, competições e resultados.
Infelizmente, o público global quase não recebeu informações sobre as dimensões econômicas, sociais e ambientais do evento. Perdemos a chance de conhecer o estilo britânico de gerir grandes projetos.
Recentemente, escrevi aqui sobre a faceta sustentável dos jogos. Desta vez, gostaria de abordar a questão do legado.
Há quem diga que Jogos Olímpicos geram apenas despesas e incômodos para os países organizadores. Londres mostrou que não precisa ser exatamente assim.
Os jogos de 2012 deixam um rico legado para os ingleses, como o Olympic Park que transformou radicalmente a área leste da capital.
Há poucos anos, aquela era uma espécie de terra maldita, contaminada por resíduos de antigas indústrias arruinadas. Durante anos, a área foi esquecida pelo segmento imobiliário.
Após os jogos, a região ganhou nova infraestrutura e paisagismo, além de equipamentos públicos para a prática de esportes. É um lugar onde a atividade econômica renasce.
As vilas olímpicas e paraolímpicas na região leste serão convertidas em milhares de residências para venda e aluguel. O novo bairro terá um campus educacional, um centro de saúde e outros equipamentos comunitários.
Nesse pedaço restaurado da metrópole, foram estabelecidas novas conexões de transporte, linhas de comunicação e sistemas de abastecimento de energia elétrica e água.
Segundo os organizadores, 75% de todo o investimento da Olympic Delivery Authority esteve direcionado a melhorias perenes na área.
Antes mesmo da realização das competições, Londres já tinha gerado outros benefícios para a população local.
Numa época de dificuldades econômicas, o comitê local e seus parceiros desenvolveram um grande programa de treinamento e geração de empregos.
As ações visaram principalmente as mulheres, os afro-descendentes, os asiáticos e pessoas com necessidades físicas especiais.
Foram capacitados para trabalhar em projetos de construção e em outras áreas de organização associadas ao evento olímpico.
Um bom exemplo foi o “Women into Construction Project”, que recrutou e empregou mulheres diretamente nas obras do Olympic Park.
Aos poucos, moças e senhoras estavam operando maquinário de construção. Depois, pessoas com necessidades especiais também passaram a realizar essas tarefas.
Considerados apenas os contratos específicos para as obras estruturais, foram movimentados US$ 11 bilhões. E esses negócios geraram dezenas de milhares de empregos.
Estima-se que o programa de licenciamento e comercialização tenha gerado pelo menos US$ 1,6 bilhão em vendas no varejo.
Cabe lembrar que todas as empresas associadas ao programa tiveram que alterar seus sistemas produtivos, investindo em saúde laboral, segurança e sustentabilidade.
O legado de Londres, no entanto, não ficou restrito ao Reino Unido. O programa International Inspiration, dedicado a desenvolver ações educativas por meio do esporte, beneficiou 12 milhões de crianças e jovens em 20 países.
Segundo autoridades de turismo, a difusão da marca “Londres” deve dobrar o número de turistas no país nos próximos meses, o que movimenta os segmentos de transporte, hotelaria e alimentação, entre outros.
Um levantamento da Universidade de Oxford mostra que, desde 1960, todas as olimpíadas custaram mais que o orçamento inicial previsto. A média de estouro é de 179%.
Londres executou um excelente trabalho, mas não foi perfeita. Afinal, a perfeição não existe. O poder público fez altos investimentos e os jornais, regularmente, denunciaram irregularidades em obras e contratos.
No caso do Brasil, esperamos que esses gastos adicionais sejam reduzidos por meio de uma gestão honesta e competente. O cidadão que paga pelo evento deve exigir controle e transparência.
Mais que tudo, no entanto, precisamos aproveitar essa oportunidade para criar um legado de infraestrutura, formação laboral e geração de novos negócios.
Isso vale muito mais do que as brilhantes medalhas dos campeões do esporte.
Afinal, a teoria, na prática, funciona!
* Carlos Júlio é professor, palestrante, empresário e escritor. Leia mais artigos do Magia da Gestão. Siga @profcarlosjulio no twitter e seja fã no Facebook.
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